segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Teias De Aranha



As teias de aranha
Guardam os segredos mais profundos
Porém, se as tentarmos rasgar
Nunca os irão revelar.

É pondo palavra sobre palavra,
Tocando flauta em cima do mar,
Que por baixo das tílias
Começam então a espreitar.

Escuto o passado das raízes
Bebo o vinho das tuas veias
A noite abre-me o corpo
Até o dia me prender de novo às teias.

As teias de aranha
Escondem os segredos em forma de cristal
Quem és tu afinal?




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Noite Rasga-me O Corpo

Tenho-te no ouvido
Furaste-me a pele com o teu dorso
Será que saltaste a entrada
Com o meu juízo no bolso?

Sabes a Gengibre suculento,
Deixas as minhas ancas a tremer
A tua mão fechada revela-me a verdade
Que já não consigo esconder.

A noite rasga-me o corpo
Sem saber por quem se bate
Oiço a carne que se dobra
Sem saber se é um disfarce.

No fim do Beco
O velho martela-me a cabeça
Noite tão alta,
Silêncio tão leve
E a espera recomeça.

És o tempo aos soluços
Feito de frações erradas
Deixas marcas de argila
Em Plumas apagadas.

Lisboa, 15 de Janeiro





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Bi


A última vez que estive com a minha bisavó
Cantei-lhe uma canção.
Será que levou consigo
A minha voz?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Faz Hoje 1 Ano



 
 Certo dia, a caminho da escola onde trabalho, perdi-me no nevoeiro cerrado. Estava um frio de rachar e o medo apoderou-se de mim. Os meus olhos ficaram cheios de cinzas de alguém que estava ali a passar e, repentinamente, perdi a visão. O cinzento esbranquiçado levou-me a um bosque extenso e os meus olhos acordaram.
 Quando lá cheguei, vi-te sentadinha numa pedra com um vestido branco aos folhos e uma fita azul clara na cabeça. Estavas a fazer uma coroa de flores, mas quando percebeste que era eu, desviaste imediatamente o olhar. Então, comecei a dançar lentamente ao som das folhas do eucalipto para ver se conseguia captar a tua atenção.
  Passaram 3 horas e o meu corpo estava contente, mas sentia-me altamente impaciente com o teu orgulho. Aproximei-me e desataste a correr pelos campos de trigo.O meu esforço em me aproximar era evidente, mas afastavas-te cada vez mais rápido, entre gemidos e risos estridentes, sem nunca olhares para trás. 
  Deste um mergulho num riacho e permaneceste debaixo de água até ao pôr-do-sol. Não saí do mesmo lugar porque tinha de te ver. Queria dizer-te para não teres mais medo. Precisava tanto de te prometer que nunca te abandonaria se não me destruísses por dentro.
 Voltaste à terra envolta numa espuma muito espessa em tons de cinzento e coberta de sanguessugas. Os teus olhos não tinham cor. Puxei-te, esbofeteei-te, mas não tiveste qualquer reação. Ficaste imóvel a olhar para mim sem nada por dentro. Peguei-te ao colo e voltámos para o sítio onde estavas. Fiz uma enorme fogueira para ver se entravas em ti, mas as tuas expressões flutuavam num tempo que já não era o meu. Cantei, ri, voltei a dançar como tanto gostavas, mas nada mudou.
 A noite estava quente e o calor do fogo era reconfortante. Os animais rezavam ao nosso lado e as flores beijavam-te o rosto. Tinha tudo para ter sido uma noite perfeita.
De repente, levantaste-te e olhaste para mim novamente com os teus olhos de azeitona. O teu olhar vivo e determinado devolveu-me, por segundos, a esperança de que a nossa amizade seria para sempre abençoada. Permaneceste silenciosa durante alguns minutos num misto de raiva e apego. Foi então que sem desviares o olhar do meu, te atiraste abruptamente para a fogueira e o teu corpo desapareceu sem deixar qualquer rasto. Amanheceu e estava tudo igual.
 Este dia foi há exatamente 1 ano. De vez em quando ainda lá vou procurar-te, mesmo sabendo que nunca mais voltarás.