sábado, 1 de fevereiro de 2014

Faz Hoje 2 Anos

Não estava à espera, confesso. Posso afirmar convictamente que nunca mais a queria ver nem ouvir, mas acabou por regressar.
 Quando olhei para a enorme fogueira reparei que as cinzas já não habitavam mais nas folhas de eucalipto, e lá estava ela com o seu jeito de criança perdida. O vestido branco que lhe cobria os sentidos transformou-se num farrapo pré-histórico e a fita azul céu, dantes tão resplandecente, perdeu-se nos seus cabelos irreconhecíveis de tão desgrenhados que se apresentavam. Pairava no ar um cheiro a definhamento que nunca mais vou conseguir esquecer.
"- Como estás? Não sei porquê, mas sinto que algo não está bem."- balbuciou num tom nostálgico.
Não queria falar, achava que não merecia mais o meu respeito e atenção.
 Andei à roda do meu crepúsculo sem nenhuma pausa e engoli todos os cravos riscados na esperança de afastar aquela voz.
O tempo foi passando e a curiosidade estalou, mas, acima de tudo, o meu coração amoleceu.
Entreguei-me de novo à floresta sem ressentimentos e demos um longo e terno abraço. Tapei-a com um vestido que o sol consertou durante o caminho e tornou a sorrir como antigamente.
Voltámos a dançar e a brincar ao som deste tempo incerto, com a única certeza que nenhuma sombra, nem mesmo a morte, conseguirá desfazer o nosso reflexo.