quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Louise Michel


  Hoje seria, aparentemente, um dia normal, com a mesma luz de salpicos claros de todos os domingos dourados, mas acordei com a tua voz nos pés, e a minha cama transportou-me para um universo esquisito.
 Respirei e deparei-me com 3 instalações gigantescas numa sala quadrada com uma luz morta...
 Chamei-te com as flores azuis turquesa que me deste no último beijo e sorriste suavemente em meia lua. Não te puxei, mas também não me quiseste dar a mão, ficaste no início da sala a apontar para o fundo da sala. Foi então que caminhei por um corredor estreito e nublado, cheio de gritos desesperados, com inúmeros recantos do meu lado esquerdo, que me contaram histórias da minha vida que passaram por mim sem eu as engolir.
 Fechei os olhos com a única chave que estava no ar porque tive medo, mas o vento com que me tens envolvido entrou naquele local e despiu-me para me sentir inteira. De repente, fiquei com os pés cozidos aquele tecto cinzento cheio de buracos, sem conseguir sequer gemer. Por baixo de mim, em linha recta, estava uma mulher francesa que me chamou com palavras violentas. Os seus olhos negros, carregados de raiva e melancolia, colaram-me ao seu cérebro onde estava a decorrer um funeral num dia cinzento. Aproximei-me. Os padres faziam uma orgia com os cadáveres, enquanto os familiares se devoravam uns aos outros. O meu coração não te chamou, mas consegui sair por um dos seus fios de cabelo branco, pois tinha a tua voz constantemente no meu pensamento...
 Louise Michel, era o seu nome. Com 54 anos estava condenada a uma vida altamente formatada pela sociedade, viciada na rotina castradora do ser humano, na solidão e na total ausência de emoções. Foi assim que a realidade cruel deu à luz esta pobre criatura no labirinto do Minotauro, onde Teseu a violava desde os 3 anos.
 Os 2 ecrãs projectados que me elevavam, relatavam a história da sua vida em fragmentos diferentes, mas o tempo era uno. O terceiro, estava nas minhas costas a morder-me o espírito e, foi nesse momento, que finalmente chegaste no vento dos meus pensamentos e me fizeste descer novamente por umas escadas em caracol. Deixaste-me sozinha para me despedir da mulher. Chamei a, mas não se virou para trás.
 Com o teu cachecol,aniquilei os padres perversos e a população esganada pela sua própria tristeza. Peguei na chave de oxigénio e matei Teseu . Foi então, que Louise e o Minotauro fizeram do labirinto um lugar sem medos. Reza a lenda que aprenderam a ser felizes.



                                                                                                                                                   06/2010

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